segunda-feira, 12 de março de 2012

SINFONIA SOMBRIA


     Com apenas um olhar, a família dela sabia que ele era um ser perigoso. Intuíam nele o predador, mas Antonietta se sentia a salvo a seu lado. Era a única mulher que ele queria. A única mulher que teria.
Antonietta Scarletti tinha o olhar perdido nas elegantes vidraças de cor do palácio. Além das muralhas da vila, o vento gemia. Tocou o vidro com seus dedos sensíveis, seguindo o contorno dos desenhos que lhe eram tão familiares. Quando tentava, conseguia recordá-los, com suas vivas cores e suas imagens aterradoras. Aquele pensamento lhe arrancou uma risada sonora. De menina, as gárgulas e demônios que decoravam aquele palácio lhe infundiam um medo horrível. Agora, simplesmente apreciava sua beleza, apesar de que só podia vê-los com a ponta dos dedos.
Ali era seu lar e havia sido restaurado muitas vezes ao longo dos séculos, mas conservara a arquitetura gótica o mais fielmente possível ao original. Fascinava-a, os corredores secretos com suas armadilhas maquiavélicas, cada uma das pedras perfeitamente esculpidas que constituíam sua casa. Curiosamente, agora sentia sono. A maioria das noites perambulava acorde pelos longos corredores ou se sentava a tocar o piano e a música fluía de seu interior até as teclas, numa corrente de emoções que às vezes ameaçava tomá-a. Essa noite, com o uivo do vento e o mar golpeando contra as rochas dos penhascos, recolheu o cabelo numa trança e pensou em algum poeta escuro.


RESUMINDO, o livro é tudo!

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